Capa.


Frontispício.

Sergio Fernandes Aleixo


Que Espiritismo É o Nosso?
Ensaios da Hora Extrema


Volume
I



2017

Créditos.

© 2017 Sergio Fernandes Aleixo

Capa, revisão e editoração
Sergio Fernandes Aleixo

Aleixo, Sergio Fernandes, 1970-
Que Espiritismo É o Nosso? Ensaios da Hora Extrema / Volume I / Sergio Fernandes Aleixo. — 2ª ed. — Rio de Janeiro: http://sergioaleixo.blogspot.com, 25 de maio de 2019.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sem autorização prévia por escrito do autor, sejam quais forem os meios empregados.

Dedicatória.

Aos meus fiéis leitores e amigos, 
aos meus irmãos na causa humanitária do espiritismo.

Epígrafe.

“Nunca esquecer, ao atacar a religião em nome da verdade, que a religião pode dificilmente ser substituída e a pobre criatura humana está chorando nas trevas.” — Fernando António Nogueira Pessoa. Obras em Prosa. Volume Único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998, p. 33.

Sumário.

Sumário.

Apresentação.
1. Alma imortal.
2. Livre-Pensamento.
3. Ética e alteridade.
4. Ensino geral espírita.
5. Evangelizar.
6. Jesus de Nazaré.
7. O Espírito da verdade.
8. Guia de Kardec: Jesus?
9. Sequência profética.
10. Ecumenismo.
11. Religião filosófica.
12. Providência divina.
13. Predestinação.
14. Morte e desprendimento.
15. Perispírito.
15.1. Inorgânico.
15.2. Indestrutível.
16. Puros espíritos.
16.1. Conselho supremo.
16.2. Encarnação.
16.3. Jesus.
17. Mediunidade.
18. Allan Kardec.
18.1. Codificador.
18.2. Médium.
19. Racismo.
19.1 Kardec.
19.2. São Luís.
19.3. MPF.
20. Homossexualidade.
21. Essência benigna.
22. Resignação.
23. Espiritismo e comunismo.
24. Spiritism e spiritisme.
Sobre o autor.
      Notas.

Apresentação.



Apresentação.


No blogue mantido repositório de meus textos kardecistas de dez/2009 a ago/2014, dizem amigos que se encontravam os ensaios do gênero mais acurados dos últimos tempos e que ainda os guardam, ciosos; todavia se queixam de não estarem disponíveis senão em versões mal replicadas e conflitantes internet adentro. Natural. Porque os escrevia e reescrevia conforme pesquisas realizadas, ideias trocadas. Entrementes, como controlar cópias passadas adiante por terceiros, sem atualizações? Não supunha, além disso, uma tal repercussão.

Nem tudo era flores, porém. Nesse ínterim, restava em questão a obra de Chico Xavier. Que barulho! Uma irmã na causa confidenciou-me: — Você abalou minha fé. — Pensei: “Como pode ser? Que espiritismo é o nosso?”. Nunca lancei dúvida sobre um princípio sequer da doutrina espírita. Entretanto, muito que se apresenta nessa condição, sem possuir de fato tal característica,[1] não mereceu de mim pudores, porque o spiritisme francês jamais recebeu, das investidas usurpadoras que o atingiram, senão a trama urdida do esquecimento de sua lógica kardeciana. Hoje o espiritismo mal excede os limites de um culto ingênuo, um temerário fascínio, mais próximo dos produtos difusos do seu irmão primogênito anglo-americano, o spiritism ou new spiritualism.

Oxalá os espíritas, quaisquer que sejam seus graus, não prossigam por mais décadas a fio no obscurantismo e se dediquem a plantar as melhores sementes do pensamento kardeciano, ainda capazes de potencializar alvissareiros destinos às nossas teses e práticas.

Oferto-lhes, pois, a primeira parte da obra Que Espiritismo É o Nosso? Ensaios da Hora Extrema (Vol. I.) Ela contém dezenove dos reclamados ensaios, ora reescritos e reagrupados em definitivo, de modo mais harmônico e fluido, acrescidos de cinco novos temas; portanto, vinte e quatro capítulos. As matérias movem-se na esteira de reflexões críticas que entendo urgentes em face da hora extrema dessa doutrina filosófica e moral, quer no Brasil, quer no mundo. Saúde e paz.

Sergio Fernandes Aleixo

Rio de Janeiro, 26 de março de 2017.








[1] Sobre os princípios do espiritismo, suas verdades tidas e havidas como adquiridas não existirem listadas, tratarei na segunda parte desta obra.

1. Alma imortal.

1. Alma imortal. 

Disse um físico que adoraria ter alma e, quando seu corpo pifasse, renascer em outro; que histórias de espiritismo, vida após a morte e as várias versões das religiões seriam apenas mecanismos que criamos para lidar com nosso problema fundamental: a mortalidade. Seus amigos espíritas lembraram-lhe que a maneira científica de pensar o mundo é só uma entre tantas. Ele objetou que usar a ciência para justificar a existência, ou não, da alma, nunca dará certo. E assegurou que se sabe, agora, não haver alma; o cérebro é que seria, segundo ele, um organismo ao extremo complexo. Com fundamento em quê, afinal, poder-se-ia dizer que se sabe, hoje, realmente não haver alma? Numa ciência que sequer provou o materialismo? Tudo é energia. O físico não tinha declarado, por outra, que usar a ciência para justificar a existência, ou não, da alma, nunca daria certo? Não estaria usando essa ciência, ou o que aprendeu nela, ou, pelo menos, a posição de que desfruta perante a mesma, para conferir preferência à complexidade cerebral e negar a alma, essa arte, pois, que criaríamos para lidar com nossa mortalidade? 

A ciência é a ciência de um estado de consciência, oficializada pelos que convergem num consenso mais amplo sobre algo; mas, nesse caso, conforme Kardec, fora de competência. Para além desse consenso, já afirmaram, certos cientistas, existir uma alma em nós. 1930. Universidade de Duke. Estados Unidos da América. O lendário prof. Rhyne sustentou que o cérebro não explicaria a mente e que esta não seria física, embora pudesse agir, segundo ele, no mundo físico por vias não físicas. A supervivência após a morte foi defendida em Cambridge, Oxford e Londres, por Carington, Price, Soal e, na própria Duke, pelos Rhyne e por Pratt. 

Antes disso, Bozzano estabeleceu a interessante tese de que a crença na sobrevivência à morte não teria surgido do pensamento abstrato, sim da experiência vital com fenômenos supranormais. À medida que ordenava imagens refletidas em espelhos d’água, sombras, ecos, etc., a razão humana teria preenchido categorias prévias com repercussões supervenientes dessas experiências, muitas delas, objetivas, sensoriais, de efeitos físicos.[1] Bozzano declarou, por fim, constituírem os fenômenos supranormais admirável complexo de provas anímicas e espiríticas, todas convergentes para um centro favorável à demonstração “científica” da existência e sobrevivência do espírito.[2]

Fazia cerca de sessenta anos, o descobridor do tálio, inventor do radiômetro e do tubo de raios catódicos, sir Crookes, inferira a existência da matéria radiante em meio a investigações de faculdades mediúnicas da srta. Cook — experimentos com aparições tangíveis de um espírito, por mais de três anos, no lar do próprio cientista britânico.[3] Para Denis,[4] teria advindo desse fato espírita toda uma série de descobertas, uma revolução na físico-química. Crookes afirmou que fora absolutamente verdadeira a conexão estabelecida entre este mundo e o outro.[5]

Outros atingiram tal convicção, independentemente das corporações oficiais de que eram membros, como o naturalista inglês Wallace, coautor da teoria de evolução e seleção das espécies, que publicou O Aspecto Científico do Sobrenatural;[6] o astrônomo alemão Zöllner, que editou Provas Científicas da Sobrevivência,[7] e o criminalista italiano Lombroso, que escreveu Hipnotismo e Mediunidade.[8] 

Igualmente o descobridor do agente da raiva e do pênfigo agudo, diretor do Instituto Bacteriológico de Nova York, dr. Gibier, depois de observar pelo menos quinhentas vezes a escrita direta dos espíritos, fez publicar Análise das Coisas.[9] Não satisfeito, ao IV Congresso Internacional de Psicologia,[10] dirigiu detalhado relato de suas repetidas experiências espíritas: As Materializações de Fantasmas, a Penetrabilidade da Matéria e Outros Fenômenos Psíquicos. 

Já na segunda metade do século 20, o ilmo. prof. dr. Sabom, cardiologista, relacionou 116 casos de estranhas vivências de seus pacientes entre 1976/81. Os insólitos teriam evidenciado uma dissociação entre cérebro e espírito.[11] Corroboram-no as casuísticas dos ph.d. Moody Jr., Ring, Ritchia, Kübler-Ross, Morse, etc. Após anestesia geral, coma e até morte clínica, muitos afirmavam haver estado fora do seu próprio corpo, testemunhando, no ínterim, o que sucedia nas salas em que estavam ou mesmo para além desses lugares; não raro, conversavam com defuntos acerca do presente, do passado e... do futuro. As EQM, experiências de quase morte, ou de morte aproximada, seriam estados especiais dos órgãos e evidenciariam algo mais que o corpo; o organismo não funciona, ou mal funciona; porém o espírito se mostraria ativo.[12]

Da psicologia analítica, o dr. Jung não acreditava ser possível a morte da mente. Esta não conheceria passado, presente ou futuro; segundo ele, se a mente prevê o devir, estaria acima do tempo e, assim, não se poderia limitar a um corpo. Para o dr. Jung, a plenitude da vida exigiria algo mais que um ser; necessitaria do espírito, espécie de complexo independente e superior, que seria o único capaz de chamar à vida as possibilidades psíquicas que a consciência — ego — jamais alcançaria por si.[13]

E atestam o quê, tão vastos acervos de regressões de memória, senão essas possibilidades? Centenas de casos documentados por Banerjee, Stevenson, Drouot, Weiss, etc., mereceriam só conspirações de silêncio? Weiss foi contundente afirmando que, talvez, o mais importante não seja a cessação de sintomas físicos e emocionais, sim o conhecimento de que não findamos com o corpo.[14] Drouot escreveu que a exploração de vidas anteriores não é apenas psicológica, mas espiritual.[15]

Nos congressos espíritas de 1889 e 1900 é que se falou pela vez primeira da regressão de memória a outras vidas; trabalhos apresentados pelo sr. Colavida, do grupo de estudos psíquicos de Barcelona, e pelo sr. Marata, da união espírita de Catalunha, conforme Denis e Delanne.[16] Sobre tais regressões, verificadas, contudo, num espírito, existiam dois artigos no jornal de estudos psicológicos de Allan Kardec, a Revista Espírita (1858/69):[17] “repertório mais completo do espiritismo em seu tríplice aspecto: histórico, dogmático e crítico”.[18]

O Livro dos Espíritos assinalou que viria um tempo em que disporíamos de meios mais diretos e acessíveis aos sentidos nas comunicações com o além-túmulo.[19] Era a profecia das TCI? Como quer que haja sido, contatos desafiadores estão disponíveis a toda análise. 

Verifica-se que muito do que se diz parte dos que tudo ignoram acerca dos fatos espíritas, sejam anímicos, sejam mediúnicos.[20] Ante uma tão vasta documentação, dentro e fora das universidades e por todo o mundo, os mais sensatos podem hesitar talvez, mas não resolver pela negação pura e simples. 

O pensamento kardeciano rompe com o reducionismo de um dado modelo de ciência, não com seu escopo: o conhecimento exato da realidade. Muito por força do discurso positivista de persuasão, Kardec insistia na cientificidade do espiritismo. Mais exato que se veja na base prático-filosófica de sua formulação doutrinária a tentativa mais ambiciosa de uma aliança entre a ciência e a religião, visando pulverizar a dicotomia entre razão e fé. 

A doutrina dos espíritos sistematizada por Kardec em tão acurados escrutínios tem na mais alta consideração quanto, fora de si, resulte científico e é também nesses termos que pensa o mundo; todavia forçosa necessidade lógica e prática faz que lhes adicione o que vem de seu próprio estudo do princípio espiritual. 

Kardec constatou vários fenômenos in loco: tiptologia (comunicação dos espíritos por batidas); sematologia (por letras e/ou sinais); psicografia mediata ou indireta (lápis adaptado a cestas e pranchetas); psicografia imediata ou direta (lápis retido na mão do médium); vidência (possivelmente aferida na companhia doutro sensitivo);[21] cura por passes magnéticos (desenganado, o próprio mestre, de um mal que lhe acometia as vistas),[22] etc. 

Na casa da família Baudin, Kardec chegou a formular perguntas aos espíritos em vários idiomas desconhecidos dos jovens médiuns; algumas até sem palavras, e ainda assim respostas nasciam poliglotas, profundas e lógicas por debaixo da cesta sobre os bordos da qual as meninas impunham suas mãos adolescentes. Desse modo foi capturada boa parte d’O Livro dos Espíritos, mais que fundamental, obra-fundamento da doutrina espírita.[23]

Quanto à psicografia imediata, Kardec se reporta, instigante, à mudança radical das caligrafias de acordo com a identidade dos espíritos, que conservavam a mesma escrita quando voltavam a se manifestar, ainda que de modo alternado, ao ponto de se verificar flagrante semelhança de certas escritas mediúnicas com a correspondente caligrafia de algumas pessoas quando vivas, obtidas assinaturas de exatidão perfeita, sobretudo de mortos havia pouco tempo.[24]

Esse tipo de fenômeno, aliás, foi constatado no Brasil. Chico Xavier, em 22/07/78, psicografou carta da sra. Ilda Mascaro Saullo, italiana falecida em Roma a 20/12/77. Como já ressaltara Kardec, pessoa morta recentemente. Porém, havia um complicador: no italiano. Titular de identificação datiloscópica e grafotécnica da Universidade Estadual de Londrina, o prof. Perandréa atestou que a escrita mediúnica, em número e qualidade, possuía consideráveis e irrefutáveis características de gênese gráfica suficientes para revelação e identificação da defunta como autora da mensagem.[25]

Disse-o Léon Denis que, se alguém possui alguma experiência dos fenômenos psíquicos, fica pasmado ante a penúria de raciocínio dos críticos científicos do espiritismo; que escolhem, na multidão dos fatos, sempre alguns casos que se aproximem de suas teorias, silenciando sobre os que as contradigam. Denis pergunta se esse, afinal, seria um procedimento digno de verdadeiros sábios.[26]

Kardec asseverou que a ciência era incompetente para se pronunciar sobre o espiritismo. Defendeu que o método experimental, no entanto, podia ser aplicado à metafísica e que, sem a ciência, faltaria ao espiritismo comprovação.[27] Quis dizer que não podia o espiritismo abdicar de sua parte prática, porque a ciência, sem ele, estaria impotente para explicar o que lhe exorbitaria da alçada. Kardec propôs, desse modo, um regime de complementação entre um e outra. Mas a ciência não se há suposto necessitada de nada que seu projeto exclua. O físico S. Hawking decretou, por isso, o fim da filosofia e adotou o cientismo. Para ele, Deus não é necessário à criação. Nem, por efeito, o espírito, ao corpo. 

Os espíritas, porém, não dependem do parecer da ciência para crer no espírito e em Deus; o que não significa que a desprezem ou a entendam, hoje, necessariamente equivocada quanto ao espiritismo, porquanto ela, na verdade, só está sendo coerente com seu projeto particular. Seguem, os espíritas, com suas práticas, e surpreendidos, vez por outra, com provas de identidade dos espíritos. Como disse o mestre, cada um pode chegar a essa convicção individualmente.[28] Que parte toma nisso a ciência? 


[1] Povos Primitivos e Manifestações Supranormais. [1925.] 

[2] International Psychic Gazette, mai/1930. 

[3] Fatos Espíritas. 

[4] O Além e a Sobrevivência do Ser. 

[5] International psychic gazette, 1917. 

[6] 1866. 

[7] 1878. 

[8] 1909. 

[9] 1890. 

[10] Paris, 1900. 

[11] Recollection of Death. 

[12] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 422-a. 

[13] SANTOS, Jorge Andréa dos. Palingênese, a Grande Lei. Reencarnação. Cap. V. pp. 129/30. 

[14] A Cura Através da Terapia de Vidas Passadas. [1996.] 

[15] Reencarnação e Imortalidade. [1989.] 

[16] O Problema do Ser, XIV; A Reencarnação, VII. 

[17] Revista Espírita. Jun/1866: Visão retrospectiva das várias encarnações de um espírito. Sono dos espíritos. Jul/1866: Visão retrospectiva das existências do espírito. A propósito do dr. Cailleaux. 

[18] KARDEC, Allan. Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas. Introdução. 

[19] O Livro dos Espíritos, 934. 

[20] KARDEC, Allan. A Gênese, XIII: 9. [Paris, 1868.] 

[21] Cf. item 18.2 deste trabalho. 

[22] Afirma Kardec haver ficado quase cego por volta do ano de 1852. Não lia, não escrevia nem ao menos reconhecia quem lhe desse a mão. Após consultas com os maiores especialistas, foi declarado que sofria de amaurose e que devia resignar-se. Uma sonâmbula é que lhe disse não ser amaurose, mas apoplexia que poderia resultar em amaurose. Tratou-o garantindo-lhe que em quinze dias experimentaria discreta melhora; em um mês, começaria a ver novamente e, em dois ou três meses, estaria curado. E assim lhe sobreveio, diz o mestre. (Cf. Revista Espírita. Ago/1862. Conferências do Sr. Trousseau.) 

[23] 1857, a primeira edição. 1860, a definitiva, uma “nova obra” no dizer de Kardec. 

[24] O Livro dos Espíritos. Introdução: XII. 

[25] A Psicografia à Luz da Grafoscopia. [1991.] 

[26] No Invisível. Prefácio. [1911.] 

[27] O Livro dos Espíritos. Introdução: VII. A Gênese. I:14. 

[28] O Livro dos Espíritos. Introdução: VII.

2. Livre-Pensamento.


2. Livre-Pensamento. 

Para os que compreendem a posição epistêmica do espiritismo em face dessa ciência de um estado de consciência — oficializada por consensos que não deixam de constituir outros tantos discursos de poder —, as negativas de cientistas acerca dos fatos espíritas pouco representam. Kardec foi claro: le spiritisme n’est pas du ressort de la science: o espiritismo não é da alçada da ciência.[1] Depois da morte do mestre, espíritas impacientaram-se de ansiedade por converter meio mundo e, para tanto, não hesitaram em conferir a hipóteses fugidias a precipitada condição de verdades doutrinárias. Resultado: todo um cortejo de pseudossabedorias a serviço de um movimento espírita desatento às lições de Kardec, a quem alguns preferiram mal criticar em vez de assimilar em sua especialidade. Quantos ainda ressaltam a adoção da geração espontânea como erro exarado na doutrina? Kardec esclareceu que esse tema pertencia aos especialistas, não sendo da competência espírita. A opinião de Kardec só foi isto: sua opinião, bem como, em espiritismo, também o é a opinião dos espíritos, mormente se isenta de aferição do ensino geral e de lógica mais rigorosa.[2] Assim, com todos os pretendidos erros de Kardec e do espiritismo por ele codificado: apresentam-se aos que não compreendem seus contornos epistemológicos, ou a quem não interessa compreendê-los, por trazerem à tona pensador válido de fio praticamente a pavio e, por isso, inconveniente a tantas rupturas subsistêmicas que emergem de jogos de poder e controle, dentro e fora da institucionalidade espírita no Brasil e no mundo. 

Muito se apela ao livre-pensamento. E num contexto em que o catolicismo era repressor absoluto, com poder de polícia, ele podia ser aliado perfeito do espiritismo; nas suas possibilidades, facultava, senão demolir, pelo menos questionar dogmas, levando à provável, ainda que incerta opção pela fé raciocinada proposta por Kardec. O ignorado é que o livre-pensamento faculta também a escolha ateísta, agnóstica, niilista. Fato que a Igreja católica perdeu muito de sua força e esse livre-pensamento tem conduzido, com menos embaraços, a essas opções. Kardec não deixa de ressaltá-lo ao dizer que os livres-pensadores constituem nova denominação para os que não se encontram sujeitos à opinião de ninguém quanto a assuntos de religião e espiritualidade. Vendo nisso mais espírito de sistema que livre-pensamento, observa o mestre que a qualificação de livre-pensador pode ser atribuída aos adeptos de qualquer nuance do espiritualismo racional, bem como da incredulidade absoluta; alguém, pois, não se conduzindo pela fé cega, só por isso seria livre-pensador; e o espírita, igualmente. Todavia, a despeito desses livres-pensadores menos prevenidos, haveria os radicais do livre-pensamento, para quem este não implica crer apenas no que é visto, sim em nada crer, nem mesmo em Deus. Para esses, a espiritualidade seria entrave e não a quereriam, pelo que se apropriariam da emancipação intelectual do livre-pensamento para evitarem o que os adjetivos materialista e ateu abrigam de repulsivo.[3] E desvirtuariam, assim, o sentido da emancipação intelectual do livre-pensamento — tolerância por todas as opiniões —, por vezes atirando pedras aos que como eles não pensam. 

Para Kardec, mister se faz, pois, distinção entre os que se dizem livres-pensadores, igualmente se verifica entre os que se nomeiam filósofos.[4] O livre-pensamento deve ser entendido, segundo ele, como o livre uso da faculdade de pensar e, assim, de fato, um pensamento livre, quer político, filosófico ou religioso. Desse modo, todas as opiniões e crenças podem ter seus livres-pensadores. O livre-pensamento consistiria na liberdade absoluta da escolha das crenças; significaria livre-exame, liberdade de consciência, fé raciocinada. Esse é o entendimento de Kardec.[5] No entanto, salvo engano, parece hoje prevalente a opinião ali combatida pelo mestre, a dos radicais do livre-pensamento: toda limitação, sobretudo religiosa, forçosamente implica ausência de liberdade ao pensar. 

No ínterim, pergunto-me se podem, os espíritas, estar entre esses radicais livres-pensadores e tornar-se insubmissos aos princípios a que aderiram, supõe-se, por convicção. Admite-se, lato sensu, que os não haja kardecistas.[6] E além? Quero dizer: pode haver espíritas ateus, por exemplo? Mesmo sem falar de neutralidade, para questionar o que lhes pareça merecedor de crítica, livres-pensadores têm de especular a certa equidistância. Compreende-se. Os radicais do livre-pensamento, todavia, exorbitam. É-lhes necessário descompromisso com toda escola, especialmente se afinada a ideias religiosas, caso confesso do espiritismo kardecista: “Intimamente vinculada às ideias religiosas, esclarecendo-nos sobre nossa natureza, a doutrina espírita mostra-nos a felicidade na prática das virtudes evangélicas”.[7] O livre-pensamento, nesse viés, pois, não veria hoje, na fé, senão prévio limite consigo incompatível. Essa, a razão pela qual talvez se devesse mesmo distinguir a liberdade de pensamento daquilo que é a condição de livre-pensador de ofício, digamos; esta, salvo melhor juízo, clama mais e mais por ausência de vínculo formal. 

Como quer que seja, antes de uma ruptura com Kardec em nome do livre-pensamento, convém avaliar se o que nos falta não se define melhor só como liberdade de pensamento; apenas aquela margem para exercícios especulativos em que não há rompimento com princípios. O espiritismo stricto sensu, que é, sim, o kardecismo, não fixa como princípio senão o que se achar demonstrado ou ressaltar logicamente da observação; comunica-se com todos os ramos do saber e da cultura, aos quais oferece suas descobertas e dos quais assimila, em caso de máxima pertinência, o que lhe seja premente. Assim, o ideário e a práxis do modal espírita kardecista nunca seriam ultrapassados; se lhes fossem demonstrados erros, modificar-se-iam em favor de toda verdade.[8] Erasto pede-nos que falemos ao coração, o caminho das conversões sérias. E se convenientes forem julgados fenômenos materiais para convencimento dalguns, que possam ocorrer de modo a evitar falsas interpretações, porquanto, a não ser assim, servem de argumento para os incrédulos, em vez de convencê-los.[9]

Se é verdade que o spiritisme de Kardec não se galardoou científico, igualmente o é que aqueles que o acusaram de credulidade e tentaram reescrevê-lo também não alcançaram essa cidadania. Por que eu, kardecista, devo, então, trocar um por outros? Se eventual aprovo consensual acadêmico houver, das hipóteses andarilhas que disputam a institucionalidade espírita, o aceitarei de boa mente. Por ora, contudo, são meras nomenclaturas do que não vai além de pseudociência, aposto hoje, aliás, do próprio espiritismo. O erro dalguns é quererem tornar o spiritisme uma nova metapsíquica, parapsicologia, psicotrônica, ou coisa o que o valha, com a mesma limitação paradigmática do academicismo, que Kardec se encarregou logo de superar, oportunizando à humanidade a criativa pavimentação do caminho inicial, mas resoluto, daquela que chamou ciência do infinito.[10] O que desgasta radicais do livre-pensamento perante certos espíritas é a pretensão de provar que são necessariamente mais clarividentes por não pertencerem a nenhuma escola. Não o suficiente, entretanto, para atinarem que há espíritas oriundos das escolas que lançam os mesmos questionamentos e desconstruções de que se ufanam esses radicais. Sim, há espíritas ex-agnósticos, ex-ateus, etc., que preferiram algo a lhes conferir, agora, um sentido, em vez de retirá-lo. É escolha. E por que não? 

De mais a mais, se é fato que o positivismo teve grave influência nas formulações do kardecismo, também o é que estas não se limitaram àquele primeiro. Basta dizer que, desde 1858, Kardec proclamava o advento do período psicológico, para além do científico.[11] E já em 1859, Kardec alegava que o sistema de Comte não conhecia todas as leis naturais para fixar-lhes limite irrecorrível. O espiritismo, ao contrário, demonstrava a possibilidade da alma em favor da ampliação dos domínios da ciência, não dos do sobrenatural, o que, para Kardec, tornava o próprio espiritismo “uma ciência”.[12] Não se trata, pois, de subproduto comteano. A doutrina espírita possui uma sofisticação própria. Os que atingem Kardec com a pecha genérica de ultrapassado, infenso ao novo, e querem com ele romper em nome do livre-pensamento, não devem fazê-lo antes de saber que, segundo o mestre, o espiritismo não pretende haver dito a última palavra sobre nada, nem mesmo acerca do que é do seu próprio jaez; não aparece, assim, como dose impoluta do possível e aguarda, hígido, o futuro, ainda que o infelicite nalguma medida.[13] Mas o que é o conhecimento? Eis uma questão bastante litigiosa. 


[1] O Livro dos Espíritos. Introdução: VII. 

[2] Revista Espírita. Jul/1868: A geração espontânea e A Gênese. 

[3] “De fato, que é o agnosticismo, senão um materialismo envergonhado?” (F. Engels. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, 1880.) 

[4] Revista Espírita. Jan/1867: Olhar retrospectivo sobre o movimento espírita. 

[5] Revista Espírita. Fev/1867: Livre-Pensamento e livre-consciência. 

[6] Cf. cap. 24 deste trabalho: Spiritism e spiritisme. 

[7] KARDEC, Allan. Revista Espírita. Mar/1858: Sr. Home (Segundo artigo). 

[8] A Gênese, I: 55. 

[9] O Livro dos Médiuns, 98. 

[10] O Livro dos Espíritos. Introdução: XIII. 

[11] Revista Espírita. Abr/1858. 

[12] O Que É o Espiritismo? Cap. 1: O maravilhoso e o sobrenatural. 

[13] A Gênese, XIII: 8. 

3. Ética e alteridade.


3. Ética e alteridade. 

Renomado teólogo pergunta: — O que é alteridade? — Ao que responde: — É ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença.[1] — Essa ética filosofal quer estabelecer uma relação de entendimento entre os que considera essencialmente diferentes, mas para um dos seus maiores teóricos: “O absolutamente outro é outrem; não faz número comigo”.[2] Bem; contornemos essa tão funda singularidade antes que trague toda nossa luz. O fato é que se impôs o clamor por um espiritismo em que Kardec não seja senão mais uma corrente em tantas, o que, por sinal, sem qualquer novidade, remete não à rota criteriosa da doctrine spirite pelo mestre sonhada, sim ao new spiritualism ou spiritism anglo-americano, mais difuso.[3] O instrumento usado para tanto há sido a ética da alteridade; mas o que se almeja, desse modo, é progredir sem óbices entre kardecistas, fazendo os adeptos deste modal espírita, por natureza mais exigente, acreditarem não ser boa conduta opor lúcida resistência a certas heterodoxias um tanto excêntricas por vezes. 

Essa filosofal ética alteritária, todavia, não afronta em nada o spiritisme. Ninguém respeitou mais as diferenças e apreendeu, nelas, o outro, do que o professor H.-L.-D. Rivail. O controle por ele feito do ensino geral dos espíritos o obrigava a ter em conta mesmo o que seres de pouca elevação tinham a dizer. Para esse gênio da observação, os espíritos foram, do menor ao maior, meios de se informar, não reveladores predestinados.[4] Aos detratores, respondia que a doutrina preconiza a liberdade de consciência como direito natural de seus adeptos e de todo mundo; respeita convicções sinceras e exige a reciprocidade.[5] Que saberiam, porém, da filosofal ética da alteridade os que, desde a morte do mestre, asseveram, em falso, que estaria de todo ultrapassado e oferecem, como solução, as obras que eles adotam de outrem, escrevem por si ou recebem de espíritos sem nenhum confronto de aferição? Não há ética alteritária nisso, salvo se a reciprocidade lhe seja de somenos. O espiritismo stricto sensu, a doctrine spirite — sim, o kardecismo —, não seria um absolutamente outro que é outrem e, afinal, diverso, merecendo seu direito de existir tal qual é? Como podem os paladinos desse pluralismo dito “filosófico” se proclamar kardecistas em flagrantes contraditas a Kardec? 1) reencarnação é castigo a espíritos falidos noutra linha de evolução [Roustaing]; 2) incensos e defumadores são detonadores de miasmas astralinos [Ramatis/Armond]; 3) a atual filosofia espírita é limitada por não nos esclarecer as primeiras origens do universo e o plano geral da criação, faltando-lhe visão completa do todo [Ubaldi]; 4) o espiritismo é uma doutrina laica, neutra quanto ao pensamento religioso, não pode ser cristão [CEPA/NEFCA]; 5) espiritismo é toda interpretação que possibilite espiritualização e, por isso, deve imperar o regime do mais livre pluralismo de concepções sobre os postulados da doutrina [movimento Atitude de Amor]; dentre outros subsistemas. 

Certos campeões da ética alteritária defendem respeito às diferenças, mas, para o caso particular da diferença que caracteriza o spiritisme francês, trabalham por diluí-la, isto é, a identidade kardeciana do espiritismo. A pretexto de atualizá-la, de combate às ações doutrinantes que a engessariam, não deixam de reproduzi-las a seu próprio modo. Onde, pois, a ética alteritária? Querem-na, é verdade; por obrigação alheia, contudo. Ora; não obstante o zelo da composição doutrinária de Kardec, ela registra esse espiritismo lato sensu, de alcance vário, por assim dizer. Ideias e fatos antigos mencionados pelo mestre como espiritismo: entre os druidas, na bíblia, etc.;[6] o que ocorria, outrossim, na literatura estadunidense: ancient spiritism, present spiritism: espiritismo antigo, espiritismo atual.[7] Por conseguinte, lato sensu, mas só por esse motivo admissível in totum, espíritas já o são todos os que pura e simplesmente se filiem a estudos e práticas que impliquem a crença na ação dos espíritos. Isso mais remete ao spiritism, ao new spiritualism anglo-americano, anterior ao Livro dos Espíritos; contudo não lhe é, a este último, alheia essa pluralidade mais difusa. Na introdução dessa sua magna obra, Kardec escreve que a doctrine spirite[8] tem por princípio as relações do mundo material com os espíritos e que o adepto do espiritismo (celui qui croit aux manifestations des esprits: aquele que crê nas manifestações dos espíritos)[9] será o espírita ou espiritista, vocábulo, aliás, também do inglês: spiritist, idioma em que a palavra central da “ciência” e da doutrina já fora tomada ao latim: medium.[10] Na conclusão da mesma obra fundamental, postula Kardec algo inédito, três graus entre os adeptos: os que se limitam à ciência experimental; os que admitem a moral que dela decorre, e os que praticam ou se esforçam por praticar a moral do spiritisme philosophique.[11]

Portanto, o spiritisme, a doctrine spirite, corresponde, sim, ao produto singular da lógica estreme do método de composição kardeciano; todavia nem por isso deixou ao desabrigo do qualificativo spirites ou spiritistes os que não chegam a progredir nos três graus da doutrina ou que não a acolhem toda, os que se conservam na fase empírica e, como vimos, por extensão retroativa, até mitológica, oracular, profética; donde haver, sim, lato sensu, espiritismo na umbanda, no candomblé, por exemplo, como havia na bíblia, entre os druidas e por toda antiguidade. Tanto assim é que Kardec fez publicar sem reparos em sua Revista, já em 1868: “Por não ser espírita completo, não se é menos espírita, o que faz por vezes que se o seja sem saber, algumas vezes sem o querer confessar e que, entre os sectários de diferentes religiões, muitos são espíritas de fato, quando não de nome”.[12] A dicotomia espiritualismo/espiritismo que se quer impor no Brasil, no sentido: não kardecista/kardecista, está eivada de uma deletéria pretensão hegemônica e, nalguns casos, de um criminoso preconceito contra as religiões afro-brasileiras; além de falsear a história do espiritismo. Não havia distinção entre espíritas e espiritualistas entendidos como adeptos e não adeptos de Kardec, sim entre os espiritualistas que criam nas manifestações dos espíritos e os que nelas nem sempre criam. Kardec percebeu esta confusa sinonímia estadunidense: spiritualists or spiritists, espiritualistas ou espiritistas.[13] A primeira, tradicional, ligada ao spiritualism; a segunda, neologismo, ao spiritism. Didata, Rivail logo preferiu spiritism e spiritist, para o que diz respeito aos espíritos e suas manifestações, a spiritualism e spiritualist, ainda que adjetivados, estes, por modern e new. Com isso, Kardec evitou qualquer dúvida quanto ao fato de a intervenção dos espíritos ser o traço distintivo do spiritism e a crença central dos spiritists, no que nem sempre eram acompanhados pelos spiritualists.[14] Estabelecera-se, assim, o grande divisor de águas; não entre os adeptos e os não adeptos de Kardec, mas entre os crentes e os descrentes na intervenção dos espíritos no mundo natural. 


[1] Frei Betto. Alteridade. In: Agencia Latinoamericana de Información. http://alainet.org/active/3710〈=es

[2] Lévinas, E. Totalidade e Infinito. Trad. José Pinto Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1988, p. 26. 

[3] Fonte primeira do espiritismo moderno; 1837 (fenômenos entre os Shakers), 1848 (entre os Fox), 1854 (publica-se a palavra spiritism). Kardec se refere “a um dos mais fervorosos adeptos da doutrina e que, havia muitos anos, desde 1849, se ocupava com a evocação dos espíritos. (Cf. O Livro dos Espíritos. Introdução: IV.) 

[4] Obras Póstumas. Minha primeira iniciação no espiritismo. 

[5] Obras Póstumas. Ligeira resposta aos detratores do espiritismo. 

[6] Cf. cap. 24 deste trabalho: Spiritism e spiritisme. 

[7] GOODRICH, Chauncey. The Apocatastasis; Or Progress Backwards. Cap. VI, p. 64. Burlington, 1854. 

[8] Salvo melhor juízo, locução kardeciana que, ali, tornou-se sinônima da palavra de língua inglesa adaptada ao francês: spiritisme (de spiritism). — “Si donc j'ai adopté les mots spirite, spiritisme, c'est parce qu'ils expriment sans équivoque les idées relatives aux esprits. Tout spirite est nécessairement spiritualiste, mais il s'en faut que tous les spiritualistes soient spirites.” — Se assim eu adotei os termos espírita, espiritismo, é porque eles exprimem, sem equívoco, as ideias relativas aos espíritos. Todo espírita é necessariamente espiritualista, mas nem todos os espiritualistas são espíritas. (O Que É o Espiritismo. Cap. I. Espiritismo e espiritualismo.) 

[9] Le Livre des Mediums. Nouvelle edition conforme a la onzieme edition de 1869. Union Spirite Française et Francophone. Chapitre XXXII. Vocabulaire spirite. 

[10] GOODRICH, Chauncey. The Apocatastasis; Or Progress Backwards. Cap. V, p. 51. Burlington, 1854. 

[11] Conclusão: VII. 

[12] Emile Barrault, engenheiro. In: Revista Espírita. Jun/1868. Nota bibliográfica. Por Allan Kardec. 

[13] BROWNSON, Orestes Augustus. The Spirit-Rapper. Cap. XX, p. 294. Boston, 1854. 

[14] Cf. cap. 24 deste trabalho: Spiritism e spiritisme.