O Cão de Lavas. Poesia.
Pedidos: sergiofaleixo@gmail.com
47. Poucas linhas, poucas linhas
de ausentes infindos
e senti quanto não vinhas,
não vinhas mesmo em sonhos
durante sonos tão lindos.
Aparta-nos deveras,
a tal trama, em si, já finda;
por pouco não somos palavra,
porque silêncio é que somos ainda.
45. Intensa ternura minha
que te recria repetida,
tão meiga e mascarada;
premonição irrefletida
de aflorada sensibilidade
dizendo-me que de fato
és já mesmo saudade.
15. Ao imanifesto de tua voz,
ergo, do meu terno silêncio,
toda a divina cumplicidade;
há um seco vibrátil
e tenso — nossa mágoa,
feita, quase que inteira,
de pura humanidade.
38. Libera meu canto,
pois sou o que, em ti,
imortal se conserva;
sou teu encanto.
Precipita-me
em todo o teu ser;
dá-me a mansa vida
de um ocaso pacífico
e afinal hei de viver.
Sói, sói mesmo assim
de quando em vida-vez
geralmente suceder —
amo-te muito mais
do que à própria vida
é dado morrer.
5. Escrevo no desejo
de célere ambidestro
que se farta sobejo,
se angaria em sequestro.
Atuo momentâneo
ante vício pessoal:
mergulho subcutâneo,
trocar de vestes total.
Rimo, pois, já convencido
de ressentida inquietação:
unívoco de novo inatingido —
poesia da significação.
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